Portugal e a Inovação

Porque o PM andou a divulgar números errados sobre a I,D&I em Portugal não posso deixar passar esta oportunidade para divulgar os números que agora aparecem sobre inovação num artigo do Público citando um relatório da CE. Para os que não terão acesso ao jornal fica a transcrição integral:

” Portugal foi o país da UE onde a inovação mais cresceu
 

 

Por Raquel Almeida Correia

 

Relatório da Comissão Europeia mostra que o país continua, no entanto, longe dos líderes em inovação.

Portugal foi o país da União Europeia (UE) onde a inovação mais cresceu no último ano, revela um relatório divulgado nesta terça-feira pela Comissão Europeia. Apesar de ainda figurar na lista dos “inovadores moderados” e longe dos líderes nesta área, a taxa de crescimento em inovação foi de 3,9%, a maior de entre os 28 países analisados.

De acordo com o Painel de Avaliação da Inovação, divulgado por Bruxelas, Portugal está ao lado da Itália, Espanha, República Checa, Grécia, Eslováquia, Hungria, Malta, Lituânia e Croácia, pertencendo ao grupo dos inovadores moderados. Ou seja, que atingem entre 50 a 90% da média europeia.

Em relação a Portugal, os dados mostram que foi o país onde a inovação mais cresceu, com uma subida de 3,9%, seguindo-se no ranking de maiores aumentos a Estónia e a Letónia. Em termos médios, a inovação na UE aumentou 1,7%. A Comissão Europeia refere que a inovação em Portugal “cresceu até 2010, ano a partir do qual se manteve relativamente estável”.

De acordo com Bruxelas, o desempenho do país fica, ainda assim, abaixo da média europeia na maioria dos indicadores analisados, nomeadamente no que diz respeito ao licenciamento e registo de patentes. Está, no entanto, mais bem posicionado na inovação desenvolvida pelas pequenas e médias empresas.

Acima da lista de inovadores moderados onde figura Portugal estão os líderes em inovação, um grupo composto pela Dinamarca, Finlândia, Alemanha e Suécia, com resultados mais de 20% acima da média da EU. Surgem depois os seguidores em inovação (Holanda, Luxemburgo, Bélgica, Reino Unido, Áustria, Irlanda, França, Eslovénia, Chipre e Estónia), com desempenhos até 10% abaixo da fasquia média. Polónia, Letónia, Roménia e Bulgária são os inovadores modestos, com desempenho mais de 50% abaixo da média da UE.”

 Para os interessados na investigação o relatório da CE sobre Portugal com os números reais ( e não os do governo) está disponível aqui.

 

The Gin Box e o Time to Market

Os cocktails de gin foram a febre deste Verão… Moda ou tendência? Não saberia dizer… Pareceu-me uma moda mas os próximos meses e o próximo Verão o dirão… Se for uma tendência esta caixa que a The Gin Box lançou no mercado é um conceito bem pensado e terá tudo para ser um sucesso neste Natal e nos tempos mais próximos… Podem descobrir mais no facebook ou na loja online… Se for apenas uma moda pode tornar-se um bom exemplo de como o Time to Market é importante e como chegar ao mercado no final do Verão pode ser tarde demais… A seguir com atenção este e outros produtos que eles venham a lançar porque este criador parece ser atento, imaginativo e gostar de qualidade… Fiquem com a imagem em preto (também disponível em branco)…

CR7 e a Pepsi: Previsões de Lindstrom take 2

Não vou dar notícia que a esta hora todos conhecem já as imagens infames da campanha da Pepsi tendo como protagonista o CR7… Relembremos…

Vale a pena menciona-las aqui pelo exemplo paradigmático de uma campanha que acaba por se virar contra o anunciante. Não deixarei de usar este exemplo nas minhas aulas ao longo dos próximos anos junto com a da campanha da Cacharel. É uma das previsões sobre o futuro do marketing de Martin Lindstrom “Predicts that a consumer backlash will happen against brands that are pushing too hard and being unethical.” Díficil encontrar melhor exemplo do que esta campanha da Pepsi…

Meia dúzia

Este post hoje é dedicado a um grupo de alunos que quis apostar na inovação em embalagem mas ainda não teve uma boa ideia… A boa ideia aqui foi simplesmente meter as compotas dentro de bisnagas. Enquanto a maioria pensa em como criar algo que as substitua estes dois irmãos que criaram a Meia dúzia, de acordo com esta notícia no Público um Eng Químico e a outra Engª Alimentar, resolveram trilhar o caminho contrário… Com grande sucesso que lhes deu visibilidade inclusivamente na Wallpaper. Uma boa ideia pode ser tão simples quanto isto… Para mais informação ou descobrir mais sobre o produto basta aceder ao site

“Jorge Ferreira, 38 anos, é engenheiro químico e trabalha na área da consultadoria. Gosta de pintar nos tempos livres e começou a imaginar um produto que pudesse ser comercializado nas bisnagas metálicas que os pintores costumam ter no estúdio. ”

Bubleology

De regresso de férias uma rápida passagem de uma horas por Londres que não podia deixar de ser aproveitada para ver as novidades… Travel bags com embalagens de menos de 100 mL já não o são mas chegou já aos produtos de segmento alto

Os bubble tea também não são uma novidade. Misturando chá com bolas de tapioca têm um aspeto, textura e sabor muito populares. Apareceram em Taiwan nos 80’s, continuam muito populares no oriente, tendo-se entretanto espalhado pelo mundo.

Mas a Bubbleology é uma  nova cadeia particularmente interessante pela forma como assume a química como uma imagem de marca.

Notem a montra do bar. Da foto não se percebe imediatamente do que se trata.

A química tem andado arredada das preferências do grande público. Tornou-se adjetivo para qualificar coisas de má qualidade por contraponto ao natural. O natural é uma das grandes tendências atuais na alimentação, mas a Bubbleology parece estar a presentir uma mudança de paradigma (e a contribuir para ele). Toda a decoração é feita com material de vidro de laboratório  e o seu interior parece um laboratório.

Mas a surpresa não ficaria por aqui. Um dos sucessos em cena era

Parece que a sociedade se está a reconciliar com a ciência…

Coração de fruta

O outro prémio da Nutrition awards foi para a Frulact e chegou ao meu mail como muitas outras notícias de novos produtos desta empresa porque ex-alunos da UA estiveram envolvidos no seu desenvolvimento. A ideia conceptualiza a introdução do conceito “fun” no consumo de fruta. Fica a transcrição da notícia do Público sobre este assunto:

“Imagine-se um coração de kiwi, uma estrela de morango ou um nome escrito em letras de pêssego: foi também à volta da fruta que se pôs a trabalhar a empresa agro-alimentar Frulact. A fruta já é há muito tempo a base do seu trabalho – é a Frulact quem trata a fruta que é depois integrada em iogurtes de várias marcas. Mas desta vez decidiram testar a ideia de um dos funcionários e tentar desenvolver fruta moldada em diferentes formas.

A base utilizada é uma fonte amiloproteica, que pode ser sêmola de trigo duro, glúten, farinha de arroz ou farinha de milho, e depois uma fonte de fruta (também podem ser usados vegetais ou cacau) que pode representar até 98% do produto final.

A ideia é que daqui saia fruta nas formas que se quiser: estrelas, corações, letras ou outra qualquer, que podem ser consumidas em separado ou colocadas em iogurtes outoppings de gelados, por exemplo. O produto, baptizado como FruShape, ainda não está no mercado porque a empresa procura agora um parceiro interessado em comprar uma parte da produção suficiente para justificar o investimento em maquinaria.”

Fruut

Há dias fiquei chocado com uma notícia do Público que anunciava que “Já há supermercados na Europa a vender fruta e legumes “feios”“. Isto é bater no fundo, pensei eu. Percebo todas as razões que estão por detrás de uma decisão destas e seria o primeiro a bater-me por uma abordagem sustentável deste tipo que permitisse combater o desperdício de alimentos em que o mundo ocidental é especialista… se… Se não acreditasse que há formais muito mais eficazes de valorizar esse tipo de fruta do que a sua venda a preços de saldo, frequentemente saida do produtor a preços abaixo de custo… E eis senão quando sou confrontado com imagens na televisão à hora do almoço que demonstram isso mesmo. Um pequeno produtor de Viseu tinha apostado em valorizar a maçã rejeitada desidratando-a e convertendo-a num snack.

O produto, desenvolvido em colaboração com a Escola de Biotecnologia da Universidade Católica, e comercializado sob a marca Fruut foi premiada na edição deste ano dos Nutrition awards. De como valorizar o desperdício é melhor do que simplesmente o deixar apodrecer no campo ou vende-lo ao desbarato.

Do outro premiado daremos notícia amanhã.

Mais detalhes neste vídeo da Sic Notícias

 

De novo o calçado

Sob o título “A história de uma indústria condenada que se tornou um modelo para Portugal” o Público publica hoje uma longa reportagem sobre a indústria do calçado em Portugal e a sua vitalidade.  Sendo este um tema recorrente neste blog (aqui e aqui) não poderia de deixar de aproveitar esta oportunidade para voltar a ele.

A indústria do calçado é um exemplo paradigmático de como a inovação, designe marca são fundamentais para a concorrência dos produtos portugueses no mercado internacional, mais do que os baixos salários a que nos querem amarrar, e como a globalização, mais do que uma ameaça, se revela uma oportunidade. Alguns excertos:

“Os “sapateiros” portugueses, como se gostam de designar,  ocuparam o segundo lugar do ranking do prestígio mundial, logo a seguir aos italianos, inovaram nas técnicas e nos materiais, lideram empresas que estão na vanguarda da tecnologia, criaram marcas e tendências capazes de atrair clientes de Moscovo a Nova Iorque e construíram um máquina de exportar que rendeu ao país 1600 milhões de euros no ano passado. Enquanto uma parte da indústria e a maioria do país adormeceu à sombra do crédito fácil e do mercado interno protegido, os sapateiros aprenderam rápido o que quer dizer a concorrência internacional e o que vale a “competitividade”

“Hoje, o calçado português passa pelos pés de Barack e Michelle Obama, de Shakira, de Paris Hilton, Penélope Cruz, Cameron Diaz ou Letizia Ortiz. Todos os anos as indústrias, principalmente concentradas em Felgueiras e São João da Madeira, exportam 71 milhões de pares de sapatos para todo o mundo. Há cerca de dez anos, o volume de vendas rondava os 90 milhões de pares, mas ao contrário do que se possa pensar esse recuo no volume significou um enorme salto na facturação. É que hoje os empresários nacionais conseguem colocar lá fora as suas criações a um preço médio de 22,7 euros por par, o segundo preço mais alto do mundo logo depois da Itália.”

“A Lemmon Jelly tem uma linha para médicos e enfermeiros, com palmilhas facilmente esterilizáveis. A Officina recorre à tamponagem, pintura à mão, para acabar os seus sapatos que chegam ao mercado a 390 euros o par. A Rutz utiliza cortiça submetida a testes de resistência, recorre a rendas de bilros, procura fazer calçado ecológico, flexível, leve. A Cubanas lançou o modelo Desire com uma palmilha desenhada para “estimular os pontos reflexos das zonas erógenas que se assemelham aos efeitos terapêuticos de uma massagem” e promete revolucionar o “ímpeto corporal” e a estimulação da libido.”

“Inês Caleiro passou pela London College of Fashion, estagiou no guru do design do calçado Jimmy Choo, desenhou móveis nos Estados Unidos e regressou para lançar a sua marca. Já vai na sexta colecção, produz em média 600 pares por colecção, vende-os a 200/300 euros por par e destina 70% para exportação.”

“Os custos da mão-de-obra há muito deixaram de ser um factor essencial para o sucesso da indústria nacional, porque se um operário português ganha menos do que um italiano (4,7 euros por hora contra 13,4 em Itália), há no mundo trabalhadores que recebem 2,6 euros (os brasileiros), 1,4 euros (os chineses) ou até 23 cêntimos por hora, caso dos etíopes, que estão a criar o novo el dorado das multinacionais.”

“Como em outras épocas, os empresários do sector acreditam que a sua resistência no mercado se fará apenas por mérito próprio. Pelo lado da qualidade e do design, mas também pelo domínio de redes logísticas ou pela capacidade de produzirem sem transtorno pequeníssimas encomendas que os seus clientes receberão poucos dias depois em qualquer parte do mundo. Mesmo que continuem a produzir algumas marcas de terceiros, sabem que a guerra do preço está há muito perdida. Para serem bem sucedidos, têm de se colocar muito para lá da imagem externa de Portugal, têm de disputar a aura da Itália ou da França. ”

 

Chobani Greek Yogurt

As  revistas de gestão adotaram este novo case study e nas redes não se fala de outra coisa… E eu que tenho o recorte em cima da minha mesa de trabalho desde o final de Agosto não posso continuar a fugir a falar deste fenómeno. Comecemos pelo início na primeira pessoa:

“I’ve always loved yogurt—the thick kind I grew up eating in Turkey, where my mother made it from scratch on our family’s dairy farm. When I moved to the United States, in 1994, I found American yogurt to be disgusting—too sugary and watery. If I wanted yogurt, I usually made it myself at home. So when I came across a piece of junk mail advertising a fully equipped yogurt factory for sale, in March 2005, I was curious. The factory was about 65 miles west of the feta cheese company, Euphrates, that I’d started in upstate New York a few years earlier. In 2005 Euphrates had fewer than 40 employees and about $2 million in sales; it was barely breaking even.

Kraft owned the yogurt factory, and it had decided to get out of the yogurt business. The advertisement showed some photographs of the building, which had been constructed in 1920 and appeared to be in rough shape. The best thing about the place was the price: less than $1 million. Some of the individual machines would cost more than that if purchased new.  I was able to borrow the money to buy the factory—and after Chobani hit the market, I financed our growth through further bank loans and reinvested profits.”

 

 

2005: Hamdi Ulukaya buys an old Kraft yogurt plant in upstate New York.

2006: The plant makes U.S.-style yogurt for other companies, while Ulukaya and a Turkish-born yogurt maker develop the Chobani recipe.

2007: The first cup of Chobani hits grocery shelves in Great Neck, New York.

2009: Chobani becomes the best-selling brand of Greek yogurt in the United States.

2010: Chobani becomes the best-selling brand of all yogurt in the United States and expands to Canada and Australia.

2013: Chobani sales are expected to top $1.3 billion.

 

Haveria tanto para dizer mas deixo-vos com esta imagem da HBR é uma magnífica descrição do que é uma inovação disruptiva na sua criação de mercado. E o que é surpreendente com o Chobani é como se cria uma inovação disruptiva a partir da introdução num mercado de um produto que é na base um produto tradicional e sem grande novidade tecnológica, mas com uma leitura das tendências de mercado que o leva ao sucesso. Se se consegue criar um mercado de mais de 2 mil milhões de euros a partir do iogurte grego que mercados e de que valor conseguiríamos criar a partir de alguns dos nossos produtos tradicionais? Necessito de voltar aqui ao apelo em favor das natas e do frango de churrasco?

 

E já agora a minha homenagem a Hamdi Ulukaya que soube sonhar a mudança, acreditar nela, e trabalhar para a fazer acontecer.

 

 

Um blog sobre inovação, tendências e novos produtos