“Descoberta do Mês” – Outubro de 2015

Maestro Fernando Lopes Graça – Discurso do Prof. Doutor Gustavo Nunes Caldeira na cerimónia Doutoramento Honoris Causa

Hoje, 1 de outubro, celebra-se o Dia Mundial da Música. Criado pelo International Music Council da UNESCO, esta celebração tem como objetivo promover a arte musical, divulgar a diversidade musical, sempre em consonância com os ideais de paz e amizade entre as pessoas a evolução das culturas e a troca de experiências.

Como forma de celebrar este Dia, escolhemos um discurso proferido num dos momentos da História desta Universidade, em que foi concedido o grau de Doutor Honoris Causa ao ilustre musicólogo e compositor que foi uma referência e um pilar na história da música em Portugal, o Maestro Fernando Lopes Graça.

«Quão justa e quão dignificante para a própria Universidade de Aveiro é a concessão do grau de Doutor Honoris Causae ao ilustre musicólogo Maestro Fernando Lopes Graça. (…)

Ao longo de quase 82 anos, (…) o Maestro Lopes Graça desenvolveu actividades, criou e publicou obras tais que os atributos de compositor, musicólogo, pianista, professor, escritor, crítico, ensaísta, conferencista, jornalista e político são indispensáveis para o caraterizar.

Fez os estudos liceais e os seus primeiros estudos musicais na sua cidade natal, Tomar (…). Em 1924, muda-se para Lisboa a fim de prosseguir os seus estudos, inscrevendo-se como aluno de Conservatório e paralelamente, como aluno do curso complementar de Letras do Liceu Passos Manuel. Em 1931 concluiu o curso superior de Música e Composição do Conservatório com classificações máximas. (…)

De 1932 a 1934, frequentou na Faculdade de Letras de Coimbra o curso de Histórico-Filisóficas, tendo interrompido a frequência em 1934 por motivo de preparação para o concurso de bolsas para estudos musicais no estrangeiro (…). Tendo-lhe sido atribuída a bolsa, com o resultado do concurso público, a mesma não lhe foi, no entanto, outorgada pelo Ministério da Educação Nacional, por óbvios motivos políticos.

Em 1942, funda uma Sociedade que se dedicava à organização de concertos para divulgação da música moderna, a que deu o nome de Sonata. Em 1944 foi nomeado director da Academia dos Amadores de Música, instituição em que desenvolveu uma notável acção como professor, tendo em 1954 sido afastado pelo sistema obscurantista vigente. Após o 25 de Abril de 1974, retoma a sua acção pedagógica na Academia dos Amadores de Música, quer na leccionação de Harmonia, quer de direcção coral à frente do coro daquela Instituição.

Para além da sua notável acção como pedagogo nas suas funções como professor do ensino particular, o Maestro Lopes Graça é autor duma vastíssima obra e que seria impossível enumerar em tão curto espaço de tempo. (…)

Entre as numerosas obras ganharam especial notoriedade a cantata melodrama D. Duardos e Flérida, sobre texto de Gil Vicente (…) estreada no S. Carlos em 1970 e o coro Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal, (Ary dos Santos), concluído em 1979, estreado em Lisboa e 198e que igualmente obteve1assinalável êxito aquando da sua apresentação no II Festival de Internacional de Música de Moscovo, no ano de 1984.

O catálogo de composições da autoria do Maestro Lopes Graça para além da sua impressionante extensão é também notável pela sua diversidade, pois contém obras para todos os géneros vocais e instrumentais, como sejam: Música dramática, música para orquestra, obras concertantes, peças para orquestra e voz, música de câmara, piano, canto, e coro a capella (…).

Apesar da enorme diversidade da obra do compositor e da pronunciada evolução no alargamento dos meios de expressão, nomeadamente ao nível do universo tímbrico, a sua trajectória, em termos de composição musical, manteve-se sempre fiel à permeabilidade ao elemento étnico, português e ibérico, indo mesmo à abordagem direta de documentos musicais de origem popular. A impregnação de composições de música erudita por elementos musicais de origem popular é uma das coordenadas fundamentais que consubstanciam a individualidade do Maestro Lopes Graça (…)

Uma outra coordenada fundamental da individualidade artística do Maestro Lopes Graça é a composição de um grande número de peças musicais sobre textos de grandes poetas portugueses como sejam Camões, Antero de Quental, Fernando Pessoa, Miguel Torga, José Régio, Eugénio de Andrade, J. Gomes Ferreira, Vitorino Nemésio, Florbela Espanca, Ary dos Santos (…)

Também como jornalista, publicista e investigador é muito vasta a obra do Maestro Lopes Graça e tem o seu início quando fundou, ainda em Tomar, o jornal político-regionalista (…). Em 1931 inicia a sua colaboração na revista Seara Nova como crítico perante tendo, posteriormente, assumindo as funções de secretário de redacção.

Traduziu obras (…). Fez parte de diversos júris de concursos (…)

(…) Não nos é possível incluir nesta apresentação com detalhe outras importantes actividades desenvolvidas pelo Maestro Lopes Graça, como sejam os inúmeros concertos realizados em Portugal e no estrangeiro, quer como pianista, quer na direção direcção de grupos musicais e corais (…).

Contudo, julgamos que o que acabamos de vos relembrar acerca da vastíssima obra do Maestro Lopes Graça mostra, não só a justeza da Universiidade de Aveiro ao conceder-lhe o grau de Doutor honoris causae como constitui suporte mais do que suficiente para afirmar-mos que a obra deste ilustre musicólogo e compositor constitui um volumoso capítulo referencial e uma vigorosa coluna de sustentação da historiografia da múcica portuguesa e europeia.

Eis pois as razões, Senhor Reitor, porque solicitamos a V. Exa. que proceda à imposição das insígnias de Doutor honoris causae ao maestro Lopes Graça.[1]»

Maestro Fernando Lopes Graça - Doutoramento Honoris Causa - 15-12-1988 - Fundo Arquivo da UA

Maestro Fernando Lopes Graça – Doutoramento Honoris Causa – 15-12-1988 – Fundo Arquivo da UA

 

[1] Excerto do discurso proferido pelo Prof. Doutor Gustavo Nunes Caldeira proferido na cerimónia de outorga de Doutor “honoris causae” ao Maestro Fernando Lopes Graça, no dia 15-12-1988, – Fundo do Arquivo da UA.

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