Para o efeito transcrevo do Livro “O Filósofo e o Lobo” de Rowlands (2008):
“Se eu quisesse definir os seres humanos numa única frase, esta serviria: os seres humanos são os animais que acreditam nas histórias que contam acerca deles próprios. Os seres humanos são animais crédulos.
Nesta era maldita, não é necessário frisar que as histórias que contamos sobre nós próprios podem ser a maior fonte de discórdia entre os seres humanos. Da credulidade à hostilidade muitas vezes vai apenas um pequeno passo” (p. 16).
Voltarei a este livro e à nossa relação com os animais e lobos no futuro.
Alguns dos avanços da investigação em educação apontam no sentido da necessidade de se repensar a formação inicial e continuada dos professores. Destacam-se hoje e neste espaço dois artigos.
O primeiro artigo em que sou um dos autores (banner abaixo) aponta para as diferentes competências digitais dos professores portugueses da área das Ciências e Matemática e a urgência de formação de qualidade que proporcione aos mesmos a possibilidade de potenciarem criticamente o uso das ferramentas digitais no processo de ensino / aprendizagem das disciplinas do ensino básico e secundário das referidas áreas. E as diferenças estatísticas entre professores destas áreas merece reflexão aprofundada.
O segundo artigo (também ao fundo) e fazendo uso dos destaques revela:
• uma queda drástica no denominado pensamento de ordem superior (que corresponde a muitas das capacidades de pensamento crítico que neste espaço se defende desde 2007) ao passar da apresentação de tarefas pelo professor, por oportunidades de envolvimento dos alunos, para casos que foram seguidos por evidências do pensamento dos alunos;
• Os episódios de pensamento dos alunos indicaram, na maioria das vezes, interações de baixa qualidade;
• Todos os professores incorporaram tarefas de pensamento, no entanto, apenas uma pequena minoria tomou medidas para facilitá-las ainda mais de maneiras que proporcionassem oportunidades autênticas de envolvimento de alta qualidade dos alunos com o pensamento;
• Há necessidade de reavaliar os conhecimentos e capacidades que devem ser contemplados no desenvolvimento profissional para ajudar os professores a planificar e fazer mais perguntas de ordem superior e para apoiar o envolvimento dos alunos com tarefas de pensamento.
Depois de várias atualizações, incluindo deste espaço virtual, aqui se divulga alguma da investigação que se foi realizando no último ano sobre Pensamento Crítico e publicada em revistas:
Veríssimo A., Carvalho A., Vieira R., & Pinto C. (2023). Clinical supervision strategies, learning, and critical thinking of nursing students. Revista Brasileira de Enfermagem, 76 (4), 00-00. (ISSN: 0034-7167; on-line ISSN: 1984-0446) (http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167)
São variadas as situações recentes e contextos onde o pensamento crítico não tem estado ou manifestado a sua presença!
Um deles é sobre a formação de professores e a “descoberta” de que estão em falta já em várias disciplinas de escolas, nomeadamente de grande centros urbanos; e que a situação irá agravar-se nos próximos anos (ver por exemplo notícia em: https://www.publico.pt/2022/03/28/sociedade/noticia/100-mil-alunos-estarao-menos-professor-ja-proximo-ano-preve-directora-pordata-2000423 ou em https://www.ffms.pt/blog/artigo/578/quantos-alunos-estarao-sem-aulas-daqui-a-1-ano). Ora, esta próxima “pandemia”, como lhe chamam vários “peritos”, tem estado a ser discutida em vários fóruns, encontros, programas televisivos, como diversos comentadores, incluindo ex-responsáveis pela situação que hoje se verifica em Portugal. O mais impressionante é que em nenhum dos que assisti ou li esta problemática contou com a participação de algum dos investigadores e formadores que em Portugal produz e publica investigação sobre formação de Professores.
É como se, no caso da pandemia COVID-19 que ainda vivemos, os debates fossem realizados com outros que não os especialistas nas áreas médica e afins em causa. Onde estaríamos agora? Provavelmente sem vacinas e com uma situação difícil de imaginar…
A ignorância tem sido muito gritante e latente, pois desde as linguagens, no mínimo desadequadas, até à realidade do que é e poderá ser a formação de professores, no caso a denominada inicial, vai um longa distância! E claro esta complexa situação tem de ser apreciada no seu todo e no contexto social e económico do país, e as medidas para a combater terão de ser fundamentadas e não ser apresentadas como paliativas, como as que estão já a ser implementadas, de que é exemplo a de contratar “quem aparece e se disponibiliza” independentemente da sua formação, nomeadamente didático-pedagógica!
Em próximos artigos traremos outras questões e temas de educação sobre as quais importa começar a pensar criticamente! Até lá vamos já começar a valorizar os professores que temos no ativo e os que estamos a formar para que o nosso futuro coletivo seja, de facto, mais esperançoso e com melhor qualidade de vida para todos.
Aqui fica a ligação (https://piccle.pnl2027.gov.pt/atividades/577) sobre o pensamento crítico no projeto PICCLE, que “é uma plataforma de criação, agregação e curadoria de conteúdos dirigida a docentes, com vista ao desenvolvimento das competências digitais de literacia dos jovens do 3º ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário”.
A comunicação social divulgou, em vários meios, nas últimos dias, os resultados do livro de Michel Desmurget A Fábrica de Cretinos Digitais. O resultado mais mediático foi que o impacte dos ecrãs no cérebro humano (desde que se nasce até ao estado adulto) tem sido estudado nos últimos anos e comparado. E avança-se que a demasiada exposição aos ecrãs pode ter consequências nefastas, explicitando com dados muito diversos, que a denominada geração dos “nativos digitais” é a primeira que tem um QI inferior aos seus pais. Várias notícias podem ser vistas em diferentes meios e plataformas, como a BBC e o jornal Público.
Neste último surge o sugestivo título que se recomenda, desde já, para ser repensado: ““O tempo de ecrã de crianças até aos seis anos devia ser nenhum. Zero”. E, além de outras conclusões e implicações, destaca-se que importa depois dos 6 anos, no ensino básico e secundário, repensar a utilização educativa destas tecnologias digitais (vídeos, sites, aplicações, software educativo, redes sociais, comunidades de prática e de aprendizagem, …)!
“[…] a política do início do século XXI está desprovida de planos grandiosos. Governar não é mais do que administrar. Os governos gerem países, mas já não os lideram. Asseguram que os professores recebem a tempo e horas e que os sistemas de escoamento de águas não entopem, mas não fazem a mínima ideia onde é que o país estará daqui a 20 anos” (Harari, 2016, p. 420-421).
Começa aqui um conjunto de pensamentos curtos em função do momento de pandemia que vivemos (em Portugal em decréscimo na 3ª vaga, devido ao confinamento desde a 3ª semana de janeiro deste ano). Além disso, divulgo um número de uma revista que ajudei a editar sobre o Pensamento Crítico na Educação.
Comecemos por esta segunda que é a revista Poiésis e o seu dossiê, Pensamento crítico na Educação: Estado de Arte e desafios.
O pensamento para esta semana tem a ver com a realidade atual em vários meios de comunicação social: Muitos comentadores sobre vários assuntos e com posições muito genéricas e pouco informadas, particularmente sobre educação. Raramente algum destes tem formação e investigação neste campo. E é confrangedor o espaço público continuado de que dispõem, por serem de partidos políticos ou influência e contactos privilegiados, sem o mínimo de conhecimento e fundamento sobre as questões atuais da educação, quer seja sobre a formação de professores, o seu desenvolvimento profissional, o E@D, ou ensino remoto de emergência que se vive em muitos países e nos vários níveis de ensino, os processos de ensino e as aprendizagens dos alunos … É quase como pedir a uma pessoa de qualquer profissão, que não especialista na área, que clarifique questões científicas e tecnológicas sobre o coronavírus e a decidir sobre a pandemia!
Venho sugerir a visualização de dois programas. São atuais e sobre os quais vale a pena pensar e, se adequado, usar em contextos de formação.
Um o documentário «Nós, portugueses: Um Futuro por Desenhar», que é uma co-produção da Fundação Francisco Manuel dos Santos com a RTP e que pode ser visto em: https://www.ffms.pt/play.
Em jeito de balanço de 2020, quase todo dominado pela pandemia, aqui se colocam e destacam alguns momentos, frases e produções:
Comunicação. “Sem a presença do outro, a comunicação degenera em um intercâmbio de informação: as relações são substituídas pelas conexões, e assim só se conecta com o igual; a comunicação digital é somente visual, perdemos todos os sentidos; vivemos uma fase em que a comunicação está debilitada como nunca: a comunicação global e dos likes só tolera os mais iguais; o igual não dói!” (entrevista do Filósofo Byung-Chul Han ao El País);
O último livro de Isabel Allende: Mulheres da Minha Alma (Porto Editora), que é mais um ao seu estilo pessoal e biográfico, centrado sobretudo no feminismo.
Melhor série documental: Sex & Love around the world – “Um olhar contextual e aculturado sobre o modo como adultos de seis grandes cidades celebram o amor e o sexo, numa reportagem da jornalista da CNN, Christiane Amanpour” (https://www.netflix.com/pt/title/81011682).
A obra é constituída por cinco capítulos, um dos quais sobre a realidade Portuguesa, e constitui um dos produtos da bolsa de mobilidade da Fundación Carolina que me foi atribuída.
O debate em torno da educação para a cidadania que a área/disciplina obrigatória (no ensino básico) de “Cidadania e Desenvolvimento” provocou nos últimos meses e, particularmente nas últimas semanas, em Portugal, tem sido interessante e revelador do quanto precisamos de discutir o que é a educação, a que pretendemos que seja e a que tem sido após o 25 de abril de 74.
Só nos últimos dias surgiram três artigos no Jornal Público e que aqui partilho (no que está disponível para não assinantes) dadas as diferentes posições e perspetivas:
– Santana Castilho, Professor do Ensino Superior – https://www.publico.pt/2020/09/16/opiniao/opiniao/tribalismo-cidadania-1931631 ou https://www.facebook.com/santana.castilho.94
Acrescento, em linha com alguma da argumentação usada, que temos a Constituição da República Portuguesa e a LBSE (Lei nº 46/86) que orientam e fundamentam as opções nesta e em outras questões educativas. Além disso partilha-se, ainda mais no contexto deste espaço, algumas outras posições que têm sido avançadas, como a deste vídeo na TVI: “DISCIPLINA DE CIDADANIA É FUNDAMENTAL PARA “DESENVOLVER O PENSAMENTO CRÍTICO DOS JOVENS”, acessível em: https://tvi24.iol.pt/videos/sociedade/disciplina-de-cidadania-e-fundamental-para-desenvolver-o-pensamento-critico-dos-jovens/5f5d0a080cf225c2355d606b .
Vivemos uma pandemia (COVID-19) que continua a fazer vítimas e a afetar e a condicionar a vida da maioria das pessoas de todo o planeta. Esperemos que rapidamente se obtenha uma cura, embora tal pareça ser muito difícil ainda este ano de 2020, e muito menos para todos.
Esta incrementou e proporcionou a tomada de consciência de outras “pandemias”. Uma delas é a da desinformação (vulgo Fakenews) e seus derivados, como as notícias falsas e a má informação. Outra é o crescimentos das conferências, encontros e afins online e webinares. De facto alguns congressos e conferências, como a que estou envolvido, que se realizará em Valência – VII SIA-CTS, tiveram de ser adiados e/ou passar a online em função da situação pandémica que se vivencia. Outros eventos surgiram neste período e crescem devido à facilidade da sua organização e baixo custo (ou mesmo ausência de custos).
Participei em alguns destes últimos, como aqui dei conta, e depois, dado o elevado número de convites, tive de ir recusando e adiando outros. Assisti voluntariamente a outros, para enriquecimento e salutar troca de argumentos e referenciais.
Desta participação e formação resultou um conjunto de aprendizagens, boas experiências e partilhas, especialmente com algumas Universidades Brasileiras. De outros resultou um vazio e um conjunto de opiniões e banalidades!
E deixo as palavras de Mia Couto (2019), que sugiro como leitura de Verão, sobre o “peso do vazio” que escreve em o “Universo num grão de areia”:
“O ato de pensar foi dispensado pelo uso mecânico de uma linguagem de moda. Já falei do workshopês como uma espécie de idioma que preenche e legitima a proliferação de seminários, workshops e conferências, que pululam de forma improdutiva pelo mundo inteiro” (p. 165).
Em um final de ano letivo atípico e sem aulas presenciais desde março, em praticamente todos os sistemas de ensino em Portugal, com exceção dos alunos que vão a exame (11º e 12º anos), os destaques da semana são para:
Agradecer aos professores que fizeram um esforço por fazer um E@D com a qualidade possível (pelo vistos alguns foi mais Ensino Remoto de Emergência – ERE) e procurando acompanhar todos os seus alunos, mesmo os que não tinham recursos digitais.
Reconhecer e enaltecer os professores e investigadores em educação que foram participando em debates e partilhas de experiências e boas práticas neste contexto. Lamenta-se é que muitos outros comentadores e políticos apareçam em debates públicos sem que se perceba a relevância e contributos na área da educação; é quase como colocar outros, que não médicos, a discutir e a decidir sobre esta pandemia!
Divulgar e “parabenizar” as três Universidades Brasileiras que nos convidaram e pelas excelentes perguntas que fizeram no final da conferência sobre “O pensamento crítico no combate à pandemia da desinformação” (https://www.youtube.com/watch?v=j4kCcx-5vr0).