Costa Marítima

Escrevi uma crónica sobre a forma como as dunas (no caso da Praia da Barra) estavam a ser usadas por veraneantes e destruídas em pleno verão. Não antevia, na altura que este ato em conjugação com um conjunto de outros fatores colocaram  o areal e, desde já, alguns dos bares em risco. Em, cima estão as fotos (nas 3 primeiras) de um desses bares em finais de Outubro; as outras mostram os mesmos já com blocos de rochas, obtidas em 12 de Novembro.

Não será altura de tomar novas medidas também de proteção das Dunas?

Segue a dita crónica (nº 2 de Setembro de 2011 do SiMagazine):

Escrevo esta crónica em férias. Tento descansar na praia da Barra. Mas o que tenho assistido neste contexto, por estes dias de calor, tem evidenciado a necessidade de uma reflexão sobre o papel que a educação pode e deve ter para a mudança cívica que urge em muitas situações do dia-a-dia do nosso país.
A título ilustrativo, saliento o comportamento dos condutores, particularmente no que se refere aos estacionamentos, e o modo como os veraneantes têm usufruído da referida praia. No primeiro caso tem sido de destacar o estacionamento em cima dos passeios, incluindo sobre a ciclovia construída, em frente às saídas de garagem e na desordem reinante nas zonas térreas que existem nas proximidades, algumas em entradas do areal. No segundo caso friso o uso indevido da zona dunar por muitas pessoas.
Pode-se argumentar que os estacionamentos não são suficientes para todos e que a “crise” obriga a que muitas pessoas se deslocam no seu veículo para a praia todos os dias a partir da sua residência, o que tem aumentado muito o tráfico nesta zona. Todavia um passeio de bicicleta permite verificar que havendo estacionamentos em ruas mais periféricas, algumas a cerca de 200/300 m da principal Avenida – João Corte Real, já esta está com pejada de veículos nos passeios. Então porque preferem alguns automobilistas estacionar em passeios impedindo as pessoas de os usarem, (sendo dramático quando falamos de deficientes) e estacionar em frente a garagens privadas impossibilitando os seus proprietários de poderem simplesmente sair com o seu veículo (e se acontece uma emergência!), …?
No caso das dunas, que foram protegidas ao longo dos últimos anos com passadiços de madeira e proteções que impediam o acesso e permitiram que a vegetação protetora e que “sustenta” as maioria das dunas se desenvolvesse, a situação de “assalto” e destruição pode ter repercussões ambientais e sociais que não podem ser desprezadas. É certo que parte considerável das proteções e mesmo parte do passadiço ficou coberta com areia e que a informação desapareceu (só identifiquei um placard na entrada do 7º ano de praia a informar sobre a construção de um novo passadiço). Mas tal justifica que as pessoas usem as dunas para colocarem toalhas, chapéus de sol e para-vento e mesmo tendas, muitas vezes em cima da vegetação que as protegia e que muitas crianças e jovens (e mesmo alguns adultos) que as usem as como local de diversão para saltos e “escorrega” com pranchas?
Perante situações como as aqui mencionadas, questiono-me sobre o papel que a Educação desempenhou e desempenha na formação dos cidadãos. Dos valores consagrados na constituição da República Portuguesa e na Lei de Bases do Sistema Educativo, como a justiça, igualdade, solidariedade, estão a ser mobilizados pelas pessoas na ação quotidiana? E o que dizer da formação para uma cidadania ativa, esclarecida e racional preconizada no currículo Português e contemplada em áreas curriculares e não-curriculares, como é o caso da Formação Cívica?
A escola, no seu todo, tem de passar a ter explicitamente uma educação que sustente valores de bem comum e ação racional a favor da sustentabilidade do planeta em detrimento do egoísmo, do comodismo e do desrespeito por outrem. Importa, pois, intervir a nível das práticas rentabilizando os bons exemplos e integrando contributos da investigação em educação. Da nossa parte vamos continuar a formar professores e a desenvolver investigação onde os valores e os níveis de racionalidade moral sejam incrementados em prol de um bem mais coletivo.
Aveiro, 12 de Agosto de 2011
Rui Marques Vieira

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