Excelência e Paixão

“Trabalhar com paixão é um requisito fundamental para se atingir a excelência a nível profissional”.  Esta parece ser a conclusão da investigação realizada por Liliana Araújo, em Portugal,  com o objectivo de descobrir o que têm em comum as pessoas excelentes. O que tem sido noticiado e que pode ser lido por exemplo em: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=39205&op=all

levanta-me várias questões (algumas derivam de inferências):

  • O que é a excelência a nível profissional?
  • O que se entende e envolve “trabalhar com paixão”?
  • Será que estes resultados e conclusões também se obteriam nas profissões ligadas às Ciências Sociais (uma vez que o estudo em apreço envolveu seis cientistas das áreas exactas (biólogos e físicos) e quatro bailarinos)?
  • Estarão os Portugueses pouco apaixonados a nível profissional? …

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Farol da Barra de Aveiro

4 comentários em “Excelência e Paixão”

  1. Reflectindo sobre algumas das questões que coloca, encaminho a minha opinião sobre os profissionais no âmbito das Cs Sociais, mais precisamente nos professores sem descriminação de nível de ensino, ou não seria melhor dizer educadores sem descriminação de nível de educação/ensino? Um educador de infância reconhece-se no seu nível de educação pré-escolar. Julgo que aqui deverá haver unanimidade. Então, o que falta a um professor para ser educador? Será essa paixão que nos faz mover e continuar acreditar que é possível construir mudança? Mas como se define essa paixão? Julgo que não há aqui espaço para conclusões, nem são essas que importam chegar, mas posso adiantar que a paixão alimenta-se dos fragmentos do conhecimento, como afirma Popper(1972) em “As origens do conhecimento e da ignorância”, «Vale a pena lembrar que, embora haja uma vasta diferença entre nós no que diz respeito aos fragmentos que conhecemos, somos todos iguais no infinito da nossa ignorância. », e é aí nessa tomada de consciência que deixamos o «outro» entrar quando nos libertamos do nosso narcisismo intelectual. Só podemos viver apaixonados, se todos (no âmbito do nosso contexto profissional mais restrito) vivermos na e pela paixão da nossa profissão. A paixão não tem significado, parece ser mais um conjunto de disposições/dimensões. Como pode haver pessoas a viverem apaixonadas em completo e afirmado desamor com a profissão de ser(-se) professor? E um professor com paixão vive no mundo como? Não serão relações recursivas? Eu pergunto: Não estarão os Portugueses pouco apaixonados mas pela vida, pelo Homem, pelo «outro»?
    Tal como o Professor Rui, também me questiono sobre o que será um profissional de excelência. Como definir esse nível de excelência ou nível de paixão? Faz-nos pensar realmente. Mas se defendermos a humanidade, se defendermos o pensamento crítico, promotor de qualidade na argumentação do que realmente importa discutir, caminhamos com a tal «paixão» no caminho de uma tal «excelência»! Todavia «excelência» que dificilmente será atingida, mas o mais importante é não perder esse foco, caminhando na «paixão» de viver na relação com o outro seja ele qual for!

  2. Elisabete
    Agradeço o seu comentário e o modo como o fez!
    Estamos de acordo!
    Mas, já agora e porque refere isso no seu comentário, aproveito para referir que o meu contacto com a classe docente, especialmente do Ensino Básico, tem-me evidenciado muito descontentamento e algum desânimo. Não sei se tal é falta de paixão, mas não me parece que tal sentir ajude a melhorar a Educação em Portugal.
    E acrescento que sem Autoridade na Educação não pode haver paixão!
    O que pensa disso, uma vez que também tem contactado com Professores?

  3. Caro Prof. Doutor Rui, neste momento o meu trabalho exige que trabalhe com desasseis turmas do 1.º Ciclo em simultâneo e, consequentemente, desasseis professoras. O que noto de uma maneira geral é que há um amor pelas cianças, uma preocupação intrínseca com a sua evolução e uma vontade de as ver moldar-se e contruir-se sob a sua orientação. Mas há uma opinião geral de que há muita falta de apoio por parte dos pais e encarreados de educação, um desinteresse exagerado e muito inferior relativamente ao que se verificava quando eu própria frequentei o 1.º Ciclo. Este factor desmotiva muito um professor, que acaba por não dar o seu melhor com uma criança quando verifica que não há uma harmonia e continuidade dos seus princípios educacionais quando a criança sai da escola no final do dia.
    Aliado a este factor, está o sufoco burocrático que enterra bem fundo a prioridade de um professor: trabalhar com paixão com cada criança. Todas as exigências que lhe são feitas diariamente, o excesso de trabalho pós-horário, não aquele ue é fundamental, mas aquele que nenhum professor entende mesmo para que serve, faz perder, não exactamente a paixão, mas a motivação.
    Não há tempo para que se centrem nas crianças. Não há tempo no dia-a-dia para que as formações que frequentam mudem as mentalidades e as formas de trabalho com uma grande taxa de êxito. E assim, não há amor à profissão que resista!…

  4. Obrigado pelo seu testemunho!
    Julgo compreender e partilho de vários dos aspectos que refere como o relativo ao envolvimento de toda a comunidade educativa.
    E bem sei que não é fácil manter altos níveis de paixão no nosso desempenho profissional…

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