Interrogações?

É fácil nos dias que correm não usar o pensamento crítico e deixar a irracionalidade imperar no “bota abaixo”. Sempre tentei, neste espaço e sobre as questões educativas, em específico, e sociais e tecnológicas, em geral, que tal não se verificasse e não cair, por exemplo, em falácias como a do ataque pessoal. E vou tentar que tal continue, mesmo vivendo tempos de “crise” económica, mas também social e de valores!

Neste contexto, é com apreensão que tenho assistido à tomada de decisões sobre política educativa e ainda mais às questões que se avizinham, entre as quais destaco as seguintes sob a forma de questões:

  1. O que considera este Ministério de Educação como essencial nos currículos? Quem é (que conhecimento, experiência, …) que está a fazer a dita revisão curricular? Relembra-se que,  e tal como já também se escreveu e fundamentou aqui, do ponto de vista dos currículos, as nossas orientações estão em coerência com as grandes tendências e relatórios de estudos internacionais, mas ainda não chegaram às práticas de sala de aula. O que pensa o Sr. Ministro fazer para mudar tal situação?
  2. Como e quem irá fazer os exames e as provas de aferição? E para quando alargadas no ensino básico à Ciências experimentais? O Currículo não é nem pode ser só Língua Portuguesa e Matemática!
  3. Como será a prova de acesso à profissão? Centrada em conhecimentos, quando os currículos das unidades curriculares da formação de professores, até por imposição do processo de Bolonha, estão centradas em competências?
  4. O que se pensa mudar no concurso dos futuros professores, especialmente entre os do 2º CEB que têm um inovador modelo?
  5. Que mudanças se vão fazer na avaliação de desempenho de Professores? e Como lidar e melhorar o ambiente (que me parece pouco propício a uma educação plena) que se vai vivenciando nas escolas (e que é um espelho do sentir social nacional)?
  6. Qual a fundamentação (além da falta de recursos financeiros) para algumas das opções feitas, por exemplo, em encerrar escolas com mais de 20 alunos em zonas interiores que assim “afundam-se na desertificação” sem futuro?
Amostras de rochas de Portugal Continental - Exploratório de Coimbra

Costa Marítima

Escrevi uma crónica sobre a forma como as dunas (no caso da Praia da Barra) estavam a ser usadas por veraneantes e destruídas em pleno verão. Não antevia, na altura que este ato em conjugação com um conjunto de outros fatores colocaram  o areal e, desde já, alguns dos bares em risco. Em, cima estão as fotos (nas 3 primeiras) de um desses bares em finais de Outubro; as outras mostram os mesmos já com blocos de rochas, obtidas em 12 de Novembro.

Não será altura de tomar novas medidas também de proteção das Dunas?

Segue a dita crónica (nº 2 de Setembro de 2011 do SiMagazine):

Escrevo esta crónica em férias. Tento descansar na praia da Barra. Mas o que tenho assistido neste contexto, por estes dias de calor, tem evidenciado a necessidade de uma reflexão sobre o papel que a educação pode e deve ter para a mudança cívica que urge em muitas situações do dia-a-dia do nosso país.
A título ilustrativo, saliento o comportamento dos condutores, particularmente no que se refere aos estacionamentos, e o modo como os veraneantes têm usufruído da referida praia. No primeiro caso tem sido de destacar o estacionamento em cima dos passeios, incluindo sobre a ciclovia construída, em frente às saídas de garagem e na desordem reinante nas zonas térreas que existem nas proximidades, algumas em entradas do areal. No segundo caso friso o uso indevido da zona dunar por muitas pessoas.
Pode-se argumentar que os estacionamentos não são suficientes para todos e que a “crise” obriga a que muitas pessoas se deslocam no seu veículo para a praia todos os dias a partir da sua residência, o que tem aumentado muito o tráfico nesta zona. Todavia um passeio de bicicleta permite verificar que havendo estacionamentos em ruas mais periféricas, algumas a cerca de 200/300 m da principal Avenida – João Corte Real, já esta está com pejada de veículos nos passeios. Então porque preferem alguns automobilistas estacionar em passeios impedindo as pessoas de os usarem, (sendo dramático quando falamos de deficientes) e estacionar em frente a garagens privadas impossibilitando os seus proprietários de poderem simplesmente sair com o seu veículo (e se acontece uma emergência!), …?
No caso das dunas, que foram protegidas ao longo dos últimos anos com passadiços de madeira e proteções que impediam o acesso e permitiram que a vegetação protetora e que “sustenta” as maioria das dunas se desenvolvesse, a situação de “assalto” e destruição pode ter repercussões ambientais e sociais que não podem ser desprezadas. É certo que parte considerável das proteções e mesmo parte do passadiço ficou coberta com areia e que a informação desapareceu (só identifiquei um placard na entrada do 7º ano de praia a informar sobre a construção de um novo passadiço). Mas tal justifica que as pessoas usem as dunas para colocarem toalhas, chapéus de sol e para-vento e mesmo tendas, muitas vezes em cima da vegetação que as protegia e que muitas crianças e jovens (e mesmo alguns adultos) que as usem as como local de diversão para saltos e “escorrega” com pranchas?
Perante situações como as aqui mencionadas, questiono-me sobre o papel que a Educação desempenhou e desempenha na formação dos cidadãos. Dos valores consagrados na constituição da República Portuguesa e na Lei de Bases do Sistema Educativo, como a justiça, igualdade, solidariedade, estão a ser mobilizados pelas pessoas na ação quotidiana? E o que dizer da formação para uma cidadania ativa, esclarecida e racional preconizada no currículo Português e contemplada em áreas curriculares e não-curriculares, como é o caso da Formação Cívica?
A escola, no seu todo, tem de passar a ter explicitamente uma educação que sustente valores de bem comum e ação racional a favor da sustentabilidade do planeta em detrimento do egoísmo, do comodismo e do desrespeito por outrem. Importa, pois, intervir a nível das práticas rentabilizando os bons exemplos e integrando contributos da investigação em educação. Da nossa parte vamos continuar a formar professores e a desenvolver investigação onde os valores e os níveis de racionalidade moral sejam incrementados em prol de um bem mais coletivo.
Aveiro, 12 de Agosto de 2011
Rui Marques Vieira

Leituras sobre PC

Acaba de ser publicada uma nova revista do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales e que é dedicada ao Pensamento Crítico. Pode-se aceder ao documento em:

http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/osal/osal30/osal30.pdf#page=10

Aproveito também para divulgar as Atas do V Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências do Brasil que está em: http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/venpec/conteudo/

Neste, destaco até pela referência às duas temáticas deste Blog CTS/PC o artigo:

“Enfoque cts: repercussões de uma prática pedagógica transformadora” (p. 436 das Atas).

Por fim, destaco o artigo, do último número da Revista Brasileira Educação e Pesquisa:

O portefólio na formação e avaliação profissional de professores”

que está em:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022011000300006&script=sci_arttext

Boas leituras.

7 Competências

Tony Wagner, consultor e especialista em educação e membro do Centro de Tecnologia de Harvard, tem percorrido vários países a divulgar as 7 competências para sobreviver no mundo atual e que a maioria das escolas não possui nem ensina.

Farol da Barra, Outubro de 2011

Resumo aqui a lista das que são imprescindíveis para se “ser inovador e ter um lugar no mercado de trabalho” (que pode ler em Inglês em http://www.tonywagner.com/7-survival-skills):

 1. Pensamento crítico e a capacidade para resolver problemas.

2. Espírito colaborativo e liderança por influência (em vez de por autoridade).

3. Capacidade de adaptação e rapidez para consegui-lo.

4. Iniciativa e espírito empreendedor. 

5. Domínio da comunicação oral e escrita.

6. Capacidade para aceder e processar toda a información disponível.

7. Curiosidade e imaginação.

Este investigador considera que as práticas dos Professores precisam de ser inovadoras para que os alunos sejam também inovadores e passem a criar em vez de simplemente consumir. Considera que este é um dos segredos do sistema Finlandês, que apostou nos últimos 40 anos a redesenhar a seleção e formação dos professores. Estes passaram a ter um enorme prestígio e respeito, derivado do facto de serem escolhidos entre os melhores do seu Ensino Secundário e terem um modelo que promove o trabalho colaborativo focado explicitamente no pensamento crítico.

Números

Ao ler  os jornais desta 1º semana de campanha e consultando sites e blogs diversos, além dos programas dos partidos, especialmente na área da educação avanço com alguns números que me impressionam:

  • 200 mil Portugueses deixaram de procurar emprego; ou sejam não estão nos cerca de 12% desempregados do país;
  • 23% das crianças do nosso país estão abaixo do limiar da pobreza.
  • A idade média dos portugueses actuais é de 38,5 (36,4 nos Homens e 40,6 nas mulheres); nasceram desde 1 de Janeiro de 2011 e até este momento 44 537 pessoas;
  • Já existem cerca de 5000 professores no ensino básico e secundário com Mestrado e Doutoramento (ainda não contando com os de Bolonha, para os quais o Mestrado será habilitação profissionalizante);
  • 40% dos portugueses ainda está indeciso sobre o sentido do seu voto no próximo Domingo.

O que representam / significam estes número tão díspares?

Do meu ponto de vista destaco:

  1. São pessoas reais que têm de ser consideradas nos debates e discussões, nomeadamente da próxima semana e depois realmente considerados nas decisões políticas;
  2. É muito complexo educar nestas condições apesar do aumento das qualificações dos docentes portugueses; como educar crianças que pouca ou nada têm para se alimentarem devidamente?
  3. Apesar das muitas sondagens o vencedor e o ou os partidos necessários para uma maioria parlamentar, nas próximas eleições legislativas, podem ser uma surpresa.
Pessoas em Barcelona

Educação em tempos de crise

Acaba de ser publicado um documento de trabalho da OCDE que vale a pena consultar dado os tempos que vivemos. A sua referência completa é:

Damme, D. V. and K. Karkkainen (2011). OECD Educationtoday Crisis Survey 2010: The Impact of the Economic Recession and Fiscal Crisis on Education in OECD Countries. OECD Education Working Papers, No. 56, OECD Publishing.

e pode ser consultado aqui (OECD EDUCATIONTODAY CRISIS SURVEY 2010).

 

As grandes conclusões deste estudo não são negativas. Por exemplo a primeira referida no documento atesta:

The survey data does not portrait an education system dramatically affected by overall budget cuts. In countries where public investment in education has diminished, the effects are still very specific and concentrated, and vary across and within sectors of education.

De qualquer modo cruzando as linhas gerais na área da educação dos principais partidos portugueses com as orientações do documento da “Troika” será difícil que a recessão não afecte a educação; por exemplo, vejo com preocupação, no actual contexto económico e social, que as empresas valorizarem a educação, particularmente o esforço que é exigido na melhoria da qualidade do Ensino Profissional.

Contributo Relevante

Venho neste post divulgar uma das mais interessantes iniciativas educacionais que está em desenvolvimento actualmente em Portugal. Trata-se da reestruturação curricular do Ensino Secundário Geral de Timor-Leste que a Universidade de Aveiro está a levar a cabo, com muitos colegas do Departamento de Educação envolvidos. São particularmente os programas curriculares do 10º, 11º, e 12º anos do Ensino Secundário Geral de Timor-Leste que estão a ser desenvolvidos por uma equipa coordenada pela antiga Vice-Reitora da Universidade de Aveiro e actualmente Professora Catedrática –  Isabel P. Martins.

Saliento que a componente geral, comum a todos os alunos, é constituída por quatro disciplinas: Português, Inglês, Tecnologias Multimédia, e Cidadania e Desenvolvimento Social. As componentes específicas integram, cada uma delas, cinco disciplinas; a saber: Física, Química, Biologia, Geologia e Matemática para via das Ciências e Tecnologias; Geografia, História, Sociologia, Temas de Literatura e Cultura, e Economia e Métodos Quantitativos para a via das Ciências Sociais e Humanidades.

Estas e outras informações poderão ser encontradas em: http://uaonline.ua.pt/detail.asp?c=19663&lg=pt

Será com muito interesse que vou analisar, quando estiverem prontos e disponíveis, os programas, especialmente de algumas disciplinas, bem como os manuais escolares e guias para os professores que as mesmas equipas estão a desenvolver. Quem sabe se não teremos aqui bons exemplos para o nosso próprio país!

Interior de uma escola em Timor Leste (foto de http://www.app.pt/nte/tema/timor/artigo.htm)

Blogs de Educação

Confesso que não tenho o tempo que gostaria para consultar, com mais calma e fazendo uma avaliação mais profunda, o número crescente de blogs de Educação que existem em Portugal. Mas é um fenómeno que tem tido um impacte cada vez maior na posição e envolvimento da classe na defesa dos seus interesses, especialmente tendo em conta o número de visitas que alguns deles têm (ou mostram que têm)!

Daí que tenha decidido incluir nova página, acima no menu, exactamente com a designação deste post e onde, para já incluo cinco blogs da área da educação. De entre estes destaco o 1º que procura ser, como tem logo assumido na sua barra acima, um “BLOGUE DE INFORMAÇÃO E APOIO AOS DOCENTES SOBRE LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO” (http://adduo.blogspot.com/).

Boas leituras e aceito sugestões de outros blogs de qualidade de Educação para ir incluindo na página acima.

Propostas

Depois da Justiça e Segurança (ou falta delas), considero que as questões de Educação merecem a maior das atenções a quem vai ter o desafio de governar o país nos próximos tempos.

Entre estas destaco as que são absolutamente cruciais:

  • (Re)construir a autoridade dos Professores perante toda a Comunidade Educativa;
  • Rever o Estatuto da Carreira Docente dos Ensinos Básico e Secundário, nomeadamente, como já escrevi anteriormente, avaliando os Professores pelo mérito, assumindo/revendo o erro da divisão da carreira entre Titulares (que não foram, em vários casos, os que tinham mais mérito!) e não Titulares.
  • Reforçar e ampliar a todos os níveis de ensino a formação continuada dos Professores, proporcionado-lhes efectivas condições para tal;
  • Avaliar a qualidade das Actividades de Enriquecimento Curricular; o aumento do tempo na escola dos alunos clama por actividades de inequívoca qualidade!
  • Acompanhar e avaliar a formação inicial de Professores à luz do processo de Bolonha;
  • Desenvolver Programas Curriculares para todas as áreas do Ensino Básico e Secundário, articulados e em coerência com o Currículo Nacional do Ensino Básico (ME-DEB, 2001); é o caso da área do Estudo do Meio do 1º CEB, particularmente na área das Ciências. Esta área precisa também de ser avaliada, por exemplo, com Provas de Aferição similares às da Matemática e às da Língua Materna.