I Jornadas, Archyvos fora da caixa

As I Jornadas, Archyvos fora da caixa, tiveram lugar no passado dia 30 de maio, no Auditório da venerável Ordem Terceira, em Coimbra, e integraram 3 Painéis.

O Painel 1: Históricos, Definitivos, Permanentes ou Pretéritos? De que arquivos falamos, que arquivos queremos, foi constituído pelas seguintes apresentações:

  • O Conceito de arquivo revisitado: com e sem adjetivação – Carlos Guardado da Silva (FLUL),
  • Dos conceitos de fundo e de arquivo: sua evolução e estatuto científico atual – Liliana Gomes (FLUC),
  • Definitivamente, arquivos! – Silvestre Lacerda (DGLAB)

Estas apresentações debruçaram-se na evolução e origem da palavra Archivum e na fundamentação do conceito de arquivo como lugar onde os documentos públicos são guardados, para assegurar a fé pública, certificando direitos, garantias e privilégios, protegidos em lugar sagrado.

As apresentações defenderam um arquivo sem adjetivação, corrente, histórico, pretérito ou definitivo, sendo que o essencial à memória e identidade das instituições é o conjunto da sua atividade e o que esta é capaz de nos mostrar.

Os Arquivos são instrumentos de poder institucional, em que o seu valor cultural está muitas vezes associado à data dos documentos, que de alguma forma nos chamam a atenção para a sua importância, que advém da sua antiguidade.

Painel 2: Para que nada se perca! Organização e acesso à informação, cujas apresentações foram:

  • Quando o secreto era arquivo e o arquivo era secreto em sistemas de informação pretéritos: O Santo Ofício e as Ordens Militares – Nelson Vaquinhas (CM Loulé);
  • Trastes, livros e papéis da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco de Coimbra – Margarida Silva (FLUC);
  • Seguir o fio de Ariadne: reconstituição de sistemas de informação pretéritos – Sandra Patrício (CM Sines).

Nos séculos XVII e XVIII as instituições eram extremamente rigorosas na partilha da informação. Os arquivos eram mantidos fechados, secretos (em arcas e cofres) e os recursos humanos rigorosamente escolhidos, sendo que só um número restrito de pessoas é que tinha acesso aos documentos do arquivo.

Esta comunicação dá a conhecer duas instituições, o Santo Ofício e a Mesa da Consciência e Ordens que se destacavam pelos rigorosos cuidados com a gestão da sua informação. Daqui destaca-se os espaços do arquivo, denominados secretos, os cofres a as arcas das três chaves locais, que eram abertos apenas na presença do inquisidor, sendo que as chaves da arca eram confiadas apenas ao promotor e dois funcionários, não sendo permitido a documentação sair da sala.

As outras duas apresentações demonstram as diferenças na preservação, conservação e importância dada ao arquivo em duas instituições diferentes.

Se por um lado a Venerável Ordem Terceira inventariou toda a sua documentação e constituiu séries documentais, às quais atribuiu uma letra e deu uma cota alfanumérica a cada unidade de instalação, a Santa Casa da Misericórdia de Sines “não tem arquivo”.

A terceira apresentação deste painel teve como objetivo apresentar a tentativa da reconstituição de um sistema de arquivo a partir dos documentos conservados pelo seu produtor. A Santa Casa da Misericórdia de Sines foi, assim, alvo de um estudo para tentar reconstruir a sua história. No entanto quando as instituições não preservam os seus arquivos, as possibilidades de reconstruir a sua história torna-se numa tarefa limitada e difícil. A investigação tentou então reconstituir um arquivo desaparecido através de outros arquivos, com os quais manteve relações hierárquicas, temporais e associativas, numa tentativa de chegar ao todo a partir das partes.

Painel 3: Arquivos fora da Caixa – acesso e uso da informação teve as seguintes apresentações:

  • Crowdfunding em arquivos: moda ou oportunidade – Miguel Pacheco (FLUC/Redinteg);
  • O investigador face ao Arquivo: percursos experiências de quem percorre as “caixas” – Ana Isabel Ribeiro (FLUC/CEIS20);
  • Arquivos no Flickr: novos meios, outros utilizadores – Leonor Calvão Borges (FLUC/GTGDA).

Com a expansão da Internet, principalmente a WEB 2.0, pessoas de todo o mundo com interesses comuns começaram a partilhar experiências e a envolver-se com tempo e dinheiro, numa tentativa de financiamento dos seus projetos.

A segunda apresentação é uma reflexão sobre o percurso de uma investigadora no contexto dos arquivos, nomeadamente no que diz respeito a questões de acessibilidade, compreensão dos critérios de organização dos documentos, entendimento da lógica do arquivo e as questões e necessidades dos investigadores.

Numa fase exploratória, o diálogo entre o investigador e o arquivista revela-se fundamental, uma vez que se pretende que o arquivo não seja uma peça estranha e que o arquivista seja capaz de chegar ao investigador, levando-o a documentos importantes para o seu trabalho, desvendando os “tesouros”. A era digital está a mudar os desafios de percorrer as “caixas” bem como a relação dos historiadores/investigadores com os arquivos, opinião formulada pela Dra. Ana Isabel Ribeiro – investigadora do Centro de Estudos Interdisciplinares do séc. XX da Universidade de Coimbra e que apresentou o tema.

Por último, mas não menos interessante, foi a apresentação da Doutora Leonor Calvão Borges, arquivista da Assembleia da República, que nos apresentou um trabalho por si realizado sobre a disponibilização e divulgação de acervos de imagens, à margem dos websites institucionais e correspondentes bases de dados de descrição arquivística.

A apresentação levou-nos à descoberta de um projeto lançado pela Biblioteca do Congresso (Flickr Commons) https://www.flickr.com/commons que realiza uma análise de estratégias de divulgação e formas de captação de novos públicos para os arquivos, sugerindo, ainda, possibilidade de interação entre arquivos e utilizadores com benefícios diretos para a descrição arquivística dos acervos.

Este projeto permitiu um aumento da visibilidade das coleções.

 

 

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