Sinto-me múltiplo…

Não tenho a certeza que Pessoa se referisse ao facto de que só nos seus intestinos viverem umas 10^14  bactérias o que fazia dele, e de cada um de nós, mais do que um indivíduo um ecossistema. Com a finalização do mapeamento do microbioma humano em Junho passado várias revistas de divulgação científica abordaram o tema nos últimos tempos. A noção de que co-habitamos não é nova mas o conceito de que esta é uma relação simbiotica essencial para a nossa vida sim. O que tem vindo a desenvolver-se é a ideia de que os microorganismos (ou como gostam os americanos e os publicitários: os germes) não são necessáriamente nefastos e que um conjunto de doenças se podem dever a desiquilíbrios na nossa carga microbiológica. Que para nos tratarmos, em lugar de antibióticos que matam indiscriminadamente tudo à sua passagem poderemos ter que fazer inoculações de microorganismos (o que alías parece estar já a ser feito através de transplantes fecais. Mais detalhes aqui…)  Desequilíbrios microbiológicos poderão ser responsáveis por doenças como obesidade, má nutrição, diabetes, arteriosclerose e doenças cardíacas, esclerose múltipla, asma e eczema, doenças várias do aparelho digestivo incluindo cancro do intestino e até autismo. Para perceber o quanto dependemos deles e o quanto esta evolução tem sido conjunta bastaria dizer que não dispomos de enzimas para converter alguns dos nutrientes do leite materno! Sabendo que há mais microorganismos neste ecossistema do que células do hospedeiro podemos imaginar o imenso potencial terapêutico deste conceito. E do enorme potencial deste mercado que se hoje se limita aos probióticos, leveduras e a umas mezinhas de lojas de produtos naturais, só é limitado pela imaginação e pelas capacidades de I&D das empresas… Agora que sabemos quais são resta perceber o seu papel neste ecossistema humano e cuidar não do indivíduo mas da sua multiplicidade.

Não resisto a ilustrar este post com a imagem de capa da Economist que traduz bem este conceito.