15 janeiro, 2025 | 10h00 | Sala de Atos Académicos, Edifício Central e da Reitoria, Universidade de Aveiro

Realizam-se no dia 15 de janeiro de 2025, pelas 10h00, na Sala de Atos Académicos, Edifício Central e da Reitoria, Universidade de Aveiro, as provas do Programa Doutoral em Educação – Didática e Desenvolvimento Curricular, de Raquel Vanessa Horta Ramos, com o título “Articulação de práticas educativas em contextos exterior, natureza e interior em Educação de Infância: Inovar e Formar”.

Raquel Ramos é orientada por Aida Figueiredo (CIDTFF, Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Aveiro) e por Ana Maria Coelho (Instituto Politécnico de Coimbra, Escola Superior de Educação de Coimbra).

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Resumo:

A investigação parte de três questões, interligadas entre si: [1] Quais as potencialidades e limitações na articulação de práticas educativas desenvolvidas em contexto natureza, designadamente no Programa Casa da Mata (PCM), do Projeto Limites Invisíveis (LI, e em contexto de Jardim de infância (JI)?; [2] Quais os contributos do Programa de Formação Colaborativa (PFC), concebido, implementado e avaliado para favorecer a colaboração e a coconstrução de estratégias de articulação, na reorientação das conceções e práticas das educadoras do PCM e do JI? [3] Qual a relação entre as (possíveis) mudanças nas conceções e práticas das educadoras, e a qualidade da oferta educativa, no momento das observações?

O PFC, apoiado em ferramentas digitais — website “Crescer sem Muros” e plataforma/Backoffice — teve como finalidade favorecer a articulação JI-PCM e a coconstrução de estratégias de colaboração com as participantes, três educadoras de um JI, com 65 crianças, e duas dos PCM, Programa de Educação na Natureza (PEN), integrado na oferta educativa dos LI. Procurou-se promover a coerência das experiências educativas vivenciadas por um grupo de 14 crianças do JI, participante no PCM. O contexto formativo procurou, assim, “derrubar muros” entre contextos e espaços exterior, natureza e interior e entre os eixos investigativo, formativo, interventivo/educativo e social, e fomentar a coconstrução de conhecimento científico sobre diferentes tipos de articulação e respetivas estratégias, refletidas e implementadas pelas educadoras. 

A pertinência desta abordagem articulada, alinhada com os direitos das crianças e com um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), preconizados pelas Nações Unidas  — Educação de Qualidade —, prende-se não só com as lacunas evidenciadas na literatura sobre a temática, mas também com os dados atuais relativos à obesidade infantil, associada à inatividade física, a par da redução do brincar, do risco, do contacto com a natureza, da mobilidade autónoma das crianças e da exploração de espaços exteriores de qualidade, em contextos educativos e sociais.

O presente estudo de caso interventivo, de natureza qualitativa, estruturou-se em três fases — baseline/diagnóstico, intervenção e avaliação — e o trabalho de campo decorreu ao longo de 21 semanas, nos dois contextos educativos articulados. Os dados foram recolhidos a partir de entrevistas, da observação participante e não participante, de registos escritos, fotográficos e em vídeo e dos dados emergentes da plataforma digital, construída no âmbito do PFC, e analisados através da técnica de análise de conteúdo, suportada pelo software webQDA. No sentido de se assegurar a qualidade e validade do estudo, questões éticas foram consideradas, sobretudo com as crianças, assim como critérios de confiabilidade, confiança, confirmabilidade, replicabilidade e transferibilidade.

Os resultados revelam não só potencialidades, interdependentes, na articulação JI-PCM, como também os contributos do PFC na reorientação das conceções das cinco educadoras e nas práticas das três educadoras do JI, em diferentes dimensões: valorização e exploração dos espaços exterior e natureza; papel da educadora e da criança, coerentes nos dois contextos educativos e nos diferentes espaços de aprendizagem; envolvimento da família e da comunidade; valor do brincar e do risco; e articulação quer entre contextos — articulação macro —, dentro da qual se destacou a articulação curricular (horizontal e vertical) e a articulação pedagógica (coerência entre conceções e práticas), quer entre espaços de aprendizagem de um mesmo contexto — articulação micro — que integrou a articulação logística (fluidez e continuidade entre espaços) e a articulação pedagógica (coerência da ação pedagógica dos educadores nos diferentes espaços de aprendizagem). Paralelamente, considerou-se as “vozes” das crianças na avaliação da qualidade da oferta educativa dos dois contextos articulados, a partir da dimensão funcional (affordances/oportunidades de ação atualizadas pelas crianças presentes no momento das observações), e da dimensão processual (bem-estar emocional e implicação das crianças participantes no PCM). O estudo sugere que as mudanças evidenciadas nas conceções e práticas das educadoras refletiram-se na qualidade das interações criança-espaços-pares-adultos, reveladas ao longo do PCM (fase II), e na sua melhoria, no contexto do JI (da fase I para a fase III). A diversidade de oportunidades de ação atualizadas, associadas às qualidades do ambiente que se destacaram nos espaços exteriores com elementos naturais (JI) e no espaço natureza (PCM), bem como níveis altos de bem-estar emocional e implicação, parecem estar relacionados, não com as características físicas identitárias dos espaços, mas com a mobilidade autónoma das crianças, traduzida no seu tempo de permanência nos diferentes espaços, na sua liberdade de exploração e movimento, na sua autonomia e livre iniciativa e no seu encorajamento para testar capacidades e limites.

Conclui-se que a qualidade das interações criança-espaço-pares-adulto deve sustentar-se nos diferentes contextos e espaços, seja exterior, natureza ou interior, com potencialidades pedagógicas valorizadas e articuladas, criando-se um ambiente educativo diverso, coerente e conexo, favorável às aprendizagens profundas e significativas e ao desenvolvimento saudável da criança, evidente em níveis altos de bem-estar emocional e implicação. Concomitantemente, recomenda-se a promoção da mobilidade autónoma das crianças na exploração de diferentes espaços e a valorização do brincar e do risco, evidentes na quantidade e diversidade de affordances/oportunidades de ação atualizadas. Incentivam-se investigações futuras que partam dos conceitos de articulação macro e micro propostos, contextualizando-os e contribuindo para a sua validação e melhoria, no sentido de se “Crescer sem Muros” e de se questionar, sistematicamente, práticas investigativas, formativas, educativas e sociais, na promoção da Educação de Qualidade e de infâncias felizes.