Arsénio Simões Mota nasceu em Bustos, Oliveira do Bairro, a 25 de abril de 1930. Em 1956, emigra para Caracas na Venezuela, onde trabalhou como redator no semanário “Ecos de Portugal” e em programas de rádio. Regressado a Portugal, e com pouco mais de 30 anos, envereda pela profissão de jornalista. Em 1961 funda a Biblioteca de Bustos e em 1963 ingressa no Jornal de Notícias (JN), no Porto, cidade onde viveu (e ainda vive) e onde fez e ensinou jornalismo. Em junho de 1964 foi preso pela Pide e libertado três meses depois. Após o 25 de Abril regressa ao jornalismo e ao JN até se aposentar. Anos mais tarde abandona a profissão para se dedicar à tradução e edição de livros.
A sua atividade literária teve início em 1955 com a publicação do livro de poemas “O canto desconforme” (1955). Usou o pseudónimo “Arsénio de Bustos” em obras de poesia, em alusão à sua terra Natal. Considerado um escritor de múltiplas faces, dedica parte da sua obra aos problemas e à história de Bustos e da Bairrada. Na sua bibliografia, contam-se vários trabalhos dedicados à vila onde nasceu e cresceu, como: “Bustos – Elementos para a sua História” (1983); “Bustos do Passado” (2000) e ainda dedicadas à Bairrada, as obras: “Letras Bairradinas” (1990) e “Estudos Regionais sobre a Bairrada” (1993), culminando com a publicação de “Figuras das letras e Artes na Bairrada” (2001).
A atividade no Jornal de Notícias como cronista semanal deu origem a livros de crónicas onde dominou a arte da crónica literária e social, com obras como o “Museu no Sotão” (1993) e “Letras sob Protesto” (2003). A sua linha de intervenção crítica e social começou nos anos 50 mas consolidou-se com o ingresso no JN. Tem abundante colaboração dispersa por jornais e revistas.
A crónica e o conto são talvez a forma de expressão mais intensa do autor, destacando-se livros como o “Besouro na Floresta” (1962), “Sol para Todos” (1972) ou o “Vírus Entranhado” (1999).
No domínio da arte e dos artistas, coordenou obras sobre Júlio Resende, como “Júlio Resende: a arte como vida” (1989) e Armanda Passos, “Armanda Passos” (1997). Organizou antologias, com destaque de “Para um dossier da oposição democrática” (1969), edição apreendida pela PIDE. Colaborou ainda em diversas obras de vários autores.
Arsénio Mota viria a distinguir-se sobretudo pela literatura destinada ao público infanto-juvenil, sendo que, foi neste domínio que mais se evidenciou com histórias admiráveis e em especial a coleção “Tapete Voador” da qual fazem parte os livros “A ilha das bocas abertas” (1999), “O mistério da floresta mágica” (1999), “A bandeira escondida” (1998), “O segredo da rocha” (1996) e “A corte na aldeia” (1996). As suas histórias para crianças devem ser sentidas e interpretadas como uma lição de vida.
Presidiu à Direção da Associação de Jornalistas e Escritores da Bairrada (AJEB), tendo sido o seu fundador e principal animador. Dirigiu ou codirigiu diversos suplementos literário-culturais e foi dirigente da sociedade Portuguesa de Autores (SPA).
Considerado um autor multifacetado, com um intenso percurso bibliográfico, a sua vida e obra representam a essência da alma bustuense. Responsável pela fundação da Biblioteca de Bustos, em 1961.
Sendo que as suas raízes assentam na região de Aveiro, Bustos, Oliveira do Bairro, Arsénio Mota optou por doar parte do seu espólio pessoal à Universidade de Aveiro. Este espólio encontra-se em tratamento técnico nos Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia (SBIDM) e integra:
Livros da sua autoria;Coleção de jornais, entre os quais do Jornal de Notícias (Porto) publicados no período da revolução do 25 de Abril. O autor refere-se a esta coleção como a “relíquia pessoal do “meu” 25 de abril 1974”);
Recortes de imprensa com artigos e crónicas da sua autoria e notícias alusivas à sua vida e obra;
Documentação de trabalho relativa à recuperação do património cultural da Bairrada; livros soltos pertencentes à sua biblioteca pessoal, relacionados com a Bairrada, pelos autores ou pelas próprias obras; espólio pessoal de António de Cértima, nascido em 1894 na vila de Oiã, Oliveira do Bairro e cônsul português em Dakar (Senegal) e Sevilha (Espanha), escritor de várias obras literárias; uma coleção de cerca de 70 discos em vinil (LP’s); objetos pessoais.