3 maio, 2024 | 14h30 | Sala de Reuniões e Tradução, Edifício Central e da Reitoria da Universidade de Aveiro

Realizam-se no dia 3 de maio de 2024, pelas 14h30, na Sala de Reuniões e Tradução, Edifício Central e da Reitoria da Universidade de Aveiro, as provas do Programa Doutoral em Educação de Davys Enrique Espíndola Moreno, com o título “Inclusão de crianças com paralisia cerebral no ensino artístico especializado da música: da investigação à ação”.

Davys Espíndola Moreno é orientado por António Moreira (CIDTFF, Departamento de Educação e Psicologia, Universidade de Aveiro), Oksana Tymoshchuk (DigiMedia, Departamento de Comunicação e Aarte, Universidade de Aveiro) e Carlos Marques (Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian).

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Resumo:

No mês de março de 2018, a encarregada de educação de uma criança com limitações motoras e de comunicação, decorrente de Paralisia Cerebral (PC) – denominado Enrique – desistiu de matricular o seu filho na Escola Artística, por verificar que não estavam satisfeitas as condições de acesso e frequência necessárias. Por este motivo começou este projeto de investigação. Após receber a resolução e aprovação dos aspetos éticos e consentimento informado por parte do Conselho de Ética e Deontologia e do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados da Universidade de Aveiro, foi realizada a Investigação utilizando um desenho metodológico de Investigação-Ação (IA). Teve como finalidade encontrar soluções para que as crianças com PC, que ingressem no Ensino Básico do Regime Supletivo na área da música nas Escolas Artísticas de Portugal, possam desenvolver as suas potencialidades e aptidões artísticas, com recurso às tecnologias. Pretendeu dar resposta aos seguintes objetivos específicos: (i) Identificar as potencialidades, fragilidades e necessidades das crianças com PC; (ii) Identificar as eventuais necessidades dos Profissionais do Ensino da Música; (ii) Promover a realização por parte dos professores das adaptações necessárias dos processos, estratégias, espaços, etc.; (iii) Encontrar recursos educativos específicos e tecnológicos que facilitassem a inclusão das crianças com PC.

O Desenho Metodológico incluiu diversas ações, realizadas em três ciclos de IA, as quais compreendem: Três revisões de literatura sistemáticas e integrativas com o intuito de saber o que já foi feito nesta temática; a caraterização do Enrique para conhecer quais são as suas potencialidades, aptidões, necessidades e limitações; Entrevistas a 14 Encarregados de Educação de crianças com PC e a 14 Profissionais da Música que trabalham com crianças com diversas Limitações (cognitivas, motoras, auditivas, visuais e de comunicação) para conhecer as boas práticas e as suas necessidades; um inquérito por questionário enviado aos Diretores das Escolas Artísticas de Portugal para conhecer o que está a ser feito nas Escolas Artísticas em prol da inclusão das crianças com PC; diversas ações de sensibilização para aos professores de música sobre a inclusão de crianças com diferentes limitações; um Estágio Doutoral realizado na Universidade de Milão na Itália, no qual foi adaptado, pelos engenheiros italianos no Laboratório de Informática musical, o Instrumento Musical Digital Acessível com cabeça (HeaDMI), denominado NetyChord (simulando o som de um piano); por último foi organizado e desenvolvido um Programa de Intervenção (PI), acompanhando a frequência efetiva do Enrique na Escola Artística. Foi avaliado todo o processo de implementação, que envolveu a promoção do trabalho colaborativo interdisciplinar entre profissionais da saúde, da engenharia, da investigação e da educação.

Como conclusão podemos confirmar que o Enrique conseguiu aprender com sucesso, utilizando como instrumento o HeaDMI NetyChord, em conjunto com os produtos de apoio que utiliza normalmente: computador, Eye-tracker PC Eye 5 e Grid3. Também constatámos evidentes necessidades de formação dos Professores de música, tanto no que respeita ao trabalho com crianças com limitações motoras e de comunicação, como no que refere ao conhecimento e utilização das tecnologias. Para além disso constatámos a necessidade de adaptar os Programas de Ensino e os instrumentos musicais clássicos; a habilitação dos espaços no que respeita às acessibilidades e a abertura do Ensino Artístico Especializado (EAE) a novas formas de ensino/aprendizagem, que promovam a criatividade e possibilitem a utilização de Tecnologias, nomeadamente conteúdos digitais.

Para dar resposta às necessidades identificadas preparámos três oficinas de formação de longa duração, destinadas a professores do EAE, educadores de infância e professores ensino básico, certificadas pelo Conselho Cientifico-Pedagógico da Formação Continua. Por último, consideramos necessário continuar a investir em investigação, para que seja possível promover o acesso, a participação e o sucesso dos alunos com PC, bem como todas as crianças, independentemente das suas limitações, nos programas do EAE. Desta forma tornaremos realidade a perspetiva inclusiva estabelecida na legislação vigente (DL 54 e DL 55/2018 de 6 de julho) para que: na aprendizagem da música nenhuma criança fique para trás.