Peça do mês – outubro 2014

No dia 5 de outubro comemoram-se 104 anos de República Portuguesa. Como forma de relembrar este marco da História de Portugal destacamos, este mês, um disco da coleção José Moças que contém uma gravação de 1908 intitulada “Comicio Republicano N Aldeia”, onde é visível a agitação popular desses tempos. Trata-se de uma obra sonora de teatro declamado gravada no período final da monarquia.

Nesta gravação, sensivelmente 2 anos antes da proclamação da República, ouve-se o som de La Marseillaise (hino nacional da França), uma canção revolucionária que adquiriu grande popularidade durante a Revolução Francesa, ficando conhecida como A Marselhesa. Neste teatro declamado, elevam-se vozes masculinas e femininas lançando vivas à República, aos deputados e ao republicano “Zé Luís”, que discursa no comício. Trata-se de uma encenação de situações da época, sérias e humorísticas, assim como de uma tentativa de reprodução de certos acontecimentos como o da luta pela implantação da República.

Face do disco - Comício republicano n'aldeia Comicio Republicano n aldeia
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Instituição proprietária – Universidade de Aveiro
Categoria – Discos 78 rpm
Tipo de material – Goma-laca
Título – Comicio Republicano N Aldeia: Excentrico
Intérprete – Eduardo Barreiros e coros
Local de edição – [França]
Editora – Disque pour Gramophone
Data – [1908]
Nº de editor – G.C.-61258
Nº de matriz – 6392h
Doador – José Moças 
 

A coleção de discos goma-laca de 78 rpm, doada à Universidade de Aveiro por José Moças

A doação à Universidade de Aveiro da coleção de discos Goma-laca 78rpm de música portuguesa pelo colecionador José Moças, proprietário da editora Tradisom, foi oficializada a 17 de dezembro de 2012, aquando da cerimónia do 39º aniversário da UA.

Esta vasta coleção é constituída por cerca de 6000 discos. A maioria são gravações de fado, mas também predominam temas de música tradicional portuguesa, música para teatro de revista, monólogos, gravações referentes à implantação da República em Portugal, ópera, entre outros.

Esta riqueza patrimonial remonta ao início do século XX, indo até meados do século. Os discos mais antigos desta coleção datam de 1900. Tratam-se de quatro discos gravados no Porto, na época em que os funcionários de Émile Berliner promoviam o Gramofone na Europa. Os discos foram gravados em Portugal, nomeadamente no Porto e em Lisboa e outros no estrangeiro em cidades como Londres, Paris, Berlim, Rio de Janeiro, Nova Iorque.

As editoras discográficas presentes nestes discos remontam a finais do século XIX, início do século XX, e os seus percursos são bastantes diversos. Empresas internacionalmente famosas como a Pathé, que chegou a ser a maior fonográfica do mundo, ou a Gramophone Company, que chega aos nossos dias com o nome de EMI, são exemplos de um passado nacional riquíssimo.

Temas como o “Fado Hylario” ou “Oh Júlia”, ambas gravações de 1900, ou gravações retiradas de Revistas tais como “Ahi… Pá”, fazem parte da nossa história. Estas gravações são fruto e imagem sonora duma época, o findar do século XIX e a entrada no século XX, um período de revoluções não apenas tecnológicas, mas igualmente ideológicas e politicas; um outro exemplo é esta gravação “Comício Republicano n’aldeia” de 1908, onde é visível a agitação popular desses tempos.

José Moças, um dos doadores que confiou o seu acervo à UA

O interesse de José Moças pelo colecionismo e em particular pela música do início do século, teve um enfoque de maior envergadura em 1992, quando trabalhava na Rádio Macau e veio passar férias à Europa. Na His Master’s Voice, de Oxford Street, em Londres, viu um disco sobre fado em português. Adquiriu um exemplar e posteriormente passou-o na rádio. Houve muita solicitação devido à sua qualidade, o que levou a contactar novamente o fornecedor e a partir daí não mais parou a sua incessante procura de novos discos.

Em Portugal, em 1992, fundou a editora Tradisom e desde então editou, produziu diversas gravações históricas portuguesas realizadas entre os anos de 1900 a 1950.

Foi o impulsionador, através da coleção de discos em Inglaterra, para a candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade.

No início do corrente ano de 2013 produziu os dois discos que integram o Cancioneiro do Cante Alentejano, edição que serviu para a Candidatura do Cante a Património da Humanidade.

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